História da cidade de Olhão
Antes da nacionalidade, a região de Olhão já tinha uma rica história de ocupação humana. A presença romana deixou importantes vestígios em Marim, localizado perto da Ria. Lá, existiu uma estação importante no século IV, com uma vasta necrópole também utilizada durante o domínio visigótico (séculos V a VIII). Os romanos construíram salinas e desenvolveram a indústria de pesca e salga de peixe na região, cujos produtos eram exportados para todo o Império. Actualmente, os antigos tanques de salga de peixe estão expostos no Parque Natural da Ria Formosa.
Marim pode estar associada à origem de Olhão, sendo talvez o primeiro ponto de fixação humana na região.
Século XIII em diante
No século XIII, durante o reinado de D. Diniz, começou a construção da Torre de Marim para vigiar a Barra Velha e proteger a população de ataques de piratas mouros. Naquela época, a Quinta de Marim era uma importante empresa agrícola. Mais tarde, no século XVI ou até 1840, instalou-se uma armação do atum em Marim, atraindo dezenas de pescadores de Faro e suas famílias. Alguns pescadores decidiram ficar na região devido à abundância de peixe na Ria Formosa e construíram cabanas de madeira, canas e palha onde hoje se encontra a zona antiga da cidade de Olhão.
Embora haja um primeiro documento datado de 1378 que se refere a um “logo que chamam olham“, não há certeza se está relacionado ao local da cidade atual. Entretanto, em 1614, já se registrava moradores na Praia de Olhão e em 1719 já existiam referências ao Lugar de Olhão. A população continuou a crescer e, em 1679, foi construída a fortaleza de São Lourenço para a defesa contra piratas. As primeiras edificações de pedra foram a Igreja da Nossa Senhora da Soledade e a Igreja de Nossa Senhora do Rosário. A primeira habitação em alvenaria só foi autorizada em 1715.
O poder político em Faro sempre se opôs à construção de casas em alvenaria em Olhão devido à ausência de notáveis na pequena localidade, que era composta apenas por homens do mar. No entanto, Olhão foi construída de forma igualitária e, frequentemente, à revelia do poder político instituído. Em 1765, D. José concedeu finalmente à comunidade de marítimos de Olhão a autorização de se separarem da Confraria do Corpo Santo de Faro e formarem sua própria confraria, o Compromisso Marítimo.
Durante o cerco de Gibraltar e mais tarde o de Cadiz, os marítimos de Olhão tiveram a oportunidade de progredir economicamente comercializando peixes e seus derivados com sitiantes e sitiados.
Na história de Olhão, Portugal, as invasões francesas marcaram um ponto decisivo na afirmação política da cidade. Em 16 de Junho de 1808, os moradores de Olhão protagonizaram a primeira sublevação bem-sucedida contra a ocupação francesa, o que resultou na expulsão dos invasores do Algarve.
Este momento histórico foi fundamental para a emancipação de Olhão, já que o rei D. João VI, que estava refugiado no Brasil, foi informado da sublevação pelos próprios olhanenses que fizeram uma viagem heróica até ele a bordo do barco “Bom Sucesso”. Como reconhecimento ao heroísmo da jornada e da sublevação, o rei elevou o pequeno lugar de Olhão a vila, com o nome de Vila da Restauração, em 1808.
De 1826 a 1834, os habitantes de Olhão lutaram pelo liberalismo, apoiando D. Pedro contra D. Miguel, tornando-se um dos baluartes mais fortes do liberalismo no sul de Portugal. Em 1842, uma alfândega foi criada em Olhão, que se tornou o principal posto aduaneiro do Algarve em cerca de 20 anos, devido à sua actividade comercial. Em 1864, foi criada uma Capitania do Porto e, em 1875, o Tribunal Judicial de Olhão.
Na segunda metade do século XIX, a actividade comercial dos marítimos de Olhão cresceu bastante, estendendo-se até o Mediterrâneo Oriental. Havia contactos com o Mar Negro, Marrocos, e até mesmo a Grécia. Estes contactos influenciaram a construção das casas dos moradores de Olhão, que passaram a ser semelhantes, cúbicas e caiadas de branco, o que valeu à cidade a alcunha de “vila cubista“.
Do Século XX à actualidade
Na primeira metade do século XX, a instalação da indústria de conservas de peixe deu impulso à economia de Olhão, transformando a vila em uma região rica e produtiva. A primeira fábrica de conservas foi fundada pela empresa francesa Delory em 1881, e até 1919 já existiam cerca de 80 fábricas na região. Este período de desenvolvimento é ilustrado pelo fato de o Sporting Clube Olhanense ter se consagrado Campeão Nacional de Futebol em 1924.
No entanto, na última metade do século XX, a decadência da indústria de conservas de peixe e da própria pesca afectou a economia da vila, embora ela tenha sido elevada a cidade em 1985. Actualmente, Olhão está experimentando um renascimento, mantendo seu espírito igualitário e de liberdade. A pesca ainda é uma importante fonte de rendimento para a cidade, mas ela também está investindo decididamente no turismo de qualidade, com a recente construção do porto de recreio.
A Vila Cubista de Olhão
A localidade de Olhão começou como um simples aglomerado de casas de madeira habitadas pelos pescadores, ganhando o seu nome devido a um grande “olho de água” que existia na atual Avenida da República. No início do século XIX, D. João VI concedeu a denominação de “Nobre Vila de Olhão da Restauração” a Olhão, como reconhecimento aos esforços de Manuel Martins Garrocho e Manuel de Oliveira Nobre, que viajaram até o Brasil em 1808 em um pequeno e instável barco para dar a notícia da derrota das tropas de Napoleão durante as Invasões Francesas.
A Vila Cubista de Olhão é famosa pela sua arquitetura única, composta por casas brancas, com cubos sobrepostos, açoteias, mirantes, contramirantes, torres, torrinhas, terraços e varandas. A construção aparentemente simples é na verdade muito complexa, e as ruas estreitas são fortemente influenciadas pela matriz islâmica, tal como as de algumas cidades do norte da África. Actualmente, Olhão é conhecida como Cidade do Mar, Capital da Ria Formosa e é principalmente reconhecida pelo Festival do Marisco que acontece anualmente em Agosto.