Ser DJ é “paixão e compromisso”, diz Pete Tha Zouk, um português de Olhão entre os melhores do mundo
Nasceu António Pedro, em Olhão, há 33 anos, o português que está entre os melhores DJ do Mundo. Pete Tha Zouk – o seu nome de estrela – só quer chegar a número um, conforme explicou numa entrevista respondida pelo teclado do telemóvel, em directo do Brasil…
– Qual é a sensação de estar em 37º lugar no ranking dos melhores DJ do Mundo?
– Fantástica. Estar entre os 40 melhores DJ do Mundo é um privilégio e um motivo de orgulho que me faz querer fazer mais e melhor. É a posição mais alta de sempre de um DJ português.
– O que significa esta classificação? Mais contratos, cachet, viagens…?
– Significa um pouco de tudo isso. A prova é que nos dias seguintes choveram pedidos de várias partes do Mundo! Significa que se abrem mais portas, de mais países, de mais eventos e festivais de maior dimensão.
– Tem a ambição de chegar a número um?
– Claro, não temos todos?!…
– Conhece pessoalmente o número um do Mundo eleito pela DJMAG, o David Guetta? Como se cruzaram?
– Conheço e foi incrível a forma como nos encontrámos. Eu estava em Paris, a caminho de Miami, e tinha perdido o voo. Tive de ir no dia seguinte. Mal sabia eu que o David também ia nesse mesmo voo para a Winter Music Conference, em Miami. Na altura de recolher a bagagem abordei-o e apresentei-me, isto em 2005. Quando ele ouviu o meu nome reconheceu-o imediatamente, por causa de uma remistura minha dos Red Hot Chilli Peppers que ele tocava em todos os sets que fazia. Ficámos amigos e sempre que tenho oportunidade estou com ele em alguns espectáculos. No início de Janeiro estaremos juntos numa actuação no Brasil.
– Guetta é um revolucionário?
– O Guetta revolucionou o DJing e a própria história da música. Ele e o Will.I.Am, dos Black Eyed Peas, foram os grandes responsáveis pela ‘conversão’ dos EUA à electrónica, onde antes só se consumia hip-hop, R&B, rock. O Guetta teve um golpe de génio: convidou estrelas do R&B para cantar temas pop dele, ganhando o interesse do público da pop e da música urbana.
– Tem fama de encarar com grande seriedade o compromisso comercial. O que o faz pensar e gerir a sua carreira deste modo?
– O sucesso comercial significa a sobrevivência de qualquer artista. Não podemos é reduzir tudo a isso. Eu tenho um amor profundo pela música que escolho tocar e isso é o mais importante. Depois, tenho uma agência – a WDB Management – que me faz o management e o booking e que tem preocupações reais para que cada actuação minha seja um sucesso rentável. Independentemente da minha paixão, é importante que quem me contrata ganhe dinheiro, porque esta cultura é também um negócio.
– Também é conhecido por ser um verdadeiro ‘entertainer’. De onde lhe vem essa fibra?
– Quem está numa pista a vibrar com a música que eu escolho merece saber, e sentir, que eu partilho dessa alegria.
– A fama mudou alguma coisa na sua vida? Trouxe-lhe vantagens ou dissabores?
– Não sinto que tenha mudado muita coisa, até porque são as pessoas que nos tornam ‘famosos’. Gosto do carinho dos fãs, mesmo quando sou abordado na rua para me pedirem uma foto, um autógrafo ou simplesmente um conselho quando também querem ser DJ.
– Recorde um pouco os primórdios da sua carreira, no Algarve… Era muito naïf?
– Já tinha a ambição de ir longe. Mas a esta distância vejo que desconhecia muito do que era este mundo. Se hoje atingi um patamar alto no DJing foi graças a essas pessoas que reagiam à minha música em casas do Algarve como o Mitto, Capítulo V e o Locomia e que me impulsionaram a percorrer o País, que me fizeram sonhar em conquistar o Mundo!
– Começou muito novo a pôr música. Nunca quis fazer outra coisa?
– Cheguei a frequentar o curso de Engenharia Eléctrica e Electrónica na Universidade do Algarve, mas a música começou a ocupar-me o tempo todo: durante o dia como produtor num estúdio caseiro e à noite como DJ em alguns clubs. Mas em vez da licenciatura fiz inúmeras festas das semanas académicas!
– Continua a viver no Algarve?
– Na verdade ‘vivo’ praticamente em aeroportos, mas continuo a residir em Olhão, cidade que me viu crescer e que me apoia e que sei que se orgulha de mim…
– Como vai ser a sua agenda nos próximos tempos?
– Estou em tournée no Brasil, a primeira do Verão brasileiro. Vou dividir-me entre Brasil e Portugal até Fevereiro. A partir de Março há outros países em agenda.
– Como foi a sua última actuação?
– Num maravilhoso Sunset em Trancoso na Pousada Baía Bonita, no Brasil, durante quatro horas com um público top – em alegria, beleza e diversão – durante o Trancoso Weekend.
– Quanto ganhou nessa noite?
– Um valor justo para trazer quatro horas de alegria e felicidade a milhares de pessoas.
– O que distingue um DJ profissional de alguém que simplesmente passa música?
– A atitude para com a música e o público. Um DJ profissional sabe que deve respeitar ambos profundamente, e isto significa que passa a música em que acredita e que acredita que o seu público vai gostar porque a sua função é proporcionar um tempo feliz a quem dança à sua frente.
– Como encara a cena da dance music portuguesa?
– Está em crescimento. As coisas mudaram nos últimos anos: o house progressivo underground, que era a sonoridade vigente, ficou confinado a clubs e audiências mais pequenos; o underground vive do ressurgimento do deep house e do techno minimal e o mainstream dos sons fáceis (house vocal, comercial e trance melódico).
– O que faz quando está longe de uma mesa de som?
– Gosto de ver filmes, ir ao cinema e se houver praia é lá que eu estou. Adoro explorar os países e cidades que posso conhecer graças à profissão de DJ, mas confesso que quando estou em Portugal adoro ouvir o ‘Oceano Pacífico’ na rádio e ficar a relaxar no sofá em casa!
– O que faz uma grande música?
– A melodia e a capacidade de fazer as pessoas felizes!
– Quais são os seus ídolos?
– Os U2 e a Madonna.
– Que pessoas o inspiram?
– As que estão presentes a cada espectáculo que faço… simplesmente as pessoas! Este ano tive a oportunidade de visitar Barcelona com tempo e fiquei absolutamente fascinado pela estética do movimento modernista catalão, com a obra de Gaudí. A Sagrada Família é de cortar a respiração.
– O DJ tem fama de ser muito assediado. Mito ou verdade? (risos) Se eu dissesse que é um mito vocês acreditavam?
– É verdade e ainda bem!
Por:Vanessa Fidalgo
In http://www.cmjornal.xl.pt