Regresso do projeto Palavra Ibérica anunciado em Olhão

O terceiro dia do Encontro Poesia a Sul Olhão’15 foi dominado, no passado sábado, por um debate subordinado ao tema “Poesia de Um e de Outro Lado da Fronteira”. O evento ficou marcado com o anúncio do regresso, a breve trecho, do projecto de permuta Palavra Ibérica.

A Tasca O Galo, em Olhão, foi pequena para receber as muitas pessoas que assistiram à iniciativa incluída no terceiro dia do Encontro. O primeiro convidado a partilhar a sua opinião foi o poeta espanhol Mario Rodrigues, que fez questão de sublinhar que a poesia não é “uma receita médica que resolve todos os problemas”, mas antes “uma forma de buscar perguntas sobre o que nos inquieta”. O poeta deve, na sua opinião, falar da realidade e das contradições que leva dentro de si. Esta é uma premissa que o escritor considera que se verifica na poesia produzida em ambos os lados da fronteira, com destaque, entre os portugueses, para José Saramago, Miguel Torga, Eugénio de Andrade, e mesmo o olhanense Fernando Cabrita, que comissaria a iniciativa.

O segundo interveniente foi o editor e escritor Fernando Esteves Pinto, que aproveitou a oportunidade para dar aos presentes a boa notícia do regresso do projecto Palavra Ibérica, um intercâmbio entre poetas portugueses e espanhóis, que contempla também, para além de encontros de ambos os lados da fronteira, edições bilingues nos dois países. O primeiro encontro terá lugar já em Novembro.

“A poesia não conhece fronteiras; a poesia é a mesma” seja em que país for, “porque o sentimento é o mesmo”. Foi assim que a poetisa espanhola María Luisa Domínguez Borrallo abriu a sua intervenção no debate “Poesia de Um e de Outro Lado da Fronteira”. Para a autora, o que importa é o conteúdo veiculado pela produção literária, sendo, portanto, urgente, encontrar novas formas de chegar a um público cada vez mais desinteressado no “consumo” de poesia e literatura em geral no formato tradicional, um público geralmente sem formação literária dita “erudita”. Exemplo desta procura de novas formas para a poesia são os recitais, um recurso que, de acordo com María Luisa Domínguez Borrallo, está a ter resultados animadores em Espanha.

Manuel Moya foi outro dos oradores de sábado à tarde. O escritor, tradutor e crítico literário natural de Huelva, Espanha, voltou atrás no tempo, para recordar que houve alturas em que, no que diz respeito à literatura e cultura em geral, havia algum “desdém” por parte dos espanhóis em relação à cultura portuguesa e um “temor” em Portugal em relação ao outro lado da fronteira; uma situação que se alterou com o 25 de Abril de 1974, que marcou uma época em que “os espanhóis se voltaram para Portugal”, tendo havido, a partir dessa altura, “um certo enamoramento pela cultura portuguesa”. Uma realidade que conheceu um ligeiro retrocesso nos últimos cinco a oito anos, devido à crise generalizada que se instalou.

Finalmente, a palavra foi para o escritor e tradutor François-Louis Blanc. O francês, que reside há 14 anos em Portugal, traduziu para a sua língua, entre outros, autores ibéricos como Fernando Cabrita ou Manuel Moya. Em relação ao que une ou separa as poesias produzidas em Portugal e Espanha, considera que “se trata de dois mundos diferentes, entre os quais existe muita permeabilidade”; não deixa de existir, contudo, “uma identidade poética portuguesa e uma identidade poética espanhola”. François-Louis Blanc fez ainda o elogio à literatura portuguesa em geral, que caracteriza como “aberta ao mundo” e “integrando elementos de muitas culturas diferentes”. O terceiro dia do Encontro Poesia a Sul Olhão’15 ficou também marcado pelo lançamento de obras dos poetas Pedro Jubilot, Maria Luísa Dominguez Borrallo, Mario Rodrigues, Rute Castro, Manuel Moya e Miguel Godinho.

À noite, houve ainda lugar para uma jam session de poesia, uma performance onde poesia e música coexistiram no palco do Auditório Municipal de Olhão: à voz e música de Genoveva Faísca e Miguel Braga juntaram-se os poemas de Rogério Cão, Paulo Moreira, Raquel Ponte, Fernando Cabrita, Teresa Rita Lopes, Manuel Moya e Mario Rodrigues. A participação no evento contou com uma contribuição voluntária, que reverteu a favor da Associação de Defesa dos Animais e Plantas de Olhão (ADAPO).

O programa desta primeira edição de Poesia a Sul Olhão’15 prossegue até dia 17 de outubro: entre esta segunda feira, dia 5, e quinta feira, dia 8, as escolas do concelho vão ser visitadas por poetas, dando, assim, oportunidade aos alunos para conversarem com os autores sobre este género literário. Também neste período, o Arquivo António Rosa Mendes e a Galeria Sul, Sol e Sal acolhem, diariamente, entre as 18h30 e as 20h00, apresentações de diversos poetas de Olhão, do Algarve e de Espanha, mas também de outros países, como a Ucrânia.

Na quinta feira, 8 de outubro, um grupo de poetas ibéricos debate o tema “A Poesia e a Edição”, com moderação de Paulo Penisga. O evento ocorre no Arquivo António Rosa Mendes, a partir das 18h00.

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