Um protesto na altura inédito, o boicote eleitoral das legislativas por parte da população, por melhores condições de vida, como água potável e electricidade, está na origem do dia da Culatra que se assinala a 19 de Julho.
Este ano as comemorações passam pela inauguração da Biblioteca Escolar, marcada para as 19h00. Os arruamentos da ilha vão entretanto ganhar nova toponímia, celebrando figuras relevantes para a comunidade.
Assim, a Culatra passará a ter a “Avenida 19 de julho” que recorda o ano de 1987 assim como a “Rua Ana Laura Quintino” fundadora da Associação de Moradores da Ilha da Culatra (AMIC) e da Associação Nossa Senhora dos Navegantes.
Por sua vez a “Rua Antónia da Costa Ferreira” homenageia uma culatrense que foi parteira e dedicou a sua vida a ajudar o próximo enquanto a “Rua Isabel Argel Lisboa” lembra a enfermeira/parteira natural da ilha.
A “Travessa José Júlio de Sousa” é dedicada àquele dirigente associativo e a “Rua João Henrique Rocha” ao membro fundador do Clube União Culatrense e organizador da festa da Nossa Senhora dos Navegantes a que se junta a “Rua Padre Henrique” pároco que serviu a ilha.
Segundo a autarquia de Faro, cujo presidente Macário Correia já anunciou a presença na festa, “esta é a oportunidade para, junto dos familiares daqueles que tanto fizeram pela Ilha e pelos culatrenses, manifestar o reconhecimento público pela sua coragem e dedicação”.
Recifes artificiais da Culatra alvo de contrato
Em termos económicos, as celebrações do dia da Culatra serão o pretexto para a aprovação do contrato para os estudos de localização dos recifes artificiais da Culatra, relacionados com a aquicultura em offshore, a assinar pelas 21h45, à qual se segue a cerimónia de reconhecimento público a culatrenses organizada pela AMIC.
Quanto à animação, o dia começa com o rebate dos sinos na alvorada, a que se segue às 11h00 uma prova de demonstração do Cão de Água Português.
Danças de Salão, jogos de futebol infantil e de veteranos ocupam a tarde seguindo-se o jantar-convívio com a população, com muita música a cargo de Ricardo Sousa e cantores locais.
Entretanto a 30 de Julho a ilha prepara-se para receber os visitantes que virão em busca do primeiro Festival do Marisco da Ilha da Culatra.
Ilha da Culatra para quando a pacificação?
A Ilha da Culatra é uma das ilhas que forma o cordão dunar que protege a Ria Formosa e as cidades de Faro e Olhão. São cerca de seis quilómetros de comprimento para uma largura de pouco mais de um quilómetro com 3 núcleos – Culatra, Hangares e Farol, onde existem cerca de três centenas e meia de habitações e mais de um milhar de habitantes.
Estes são na sua maioria pescadores ou mariscadores, que têm visto contestado, desde os anos oitenta, o direito à sua habitação, sobre a qual pairou (ou paira?) o risco de demolição.
Apesar de tudo, os habitantes, através das suas associações têm vindo a conseguir ganhar algumas ‘batalhas’. A luz chegou já há alguns anos, a água potável só no ano passado.
A criação do Parque Natural da Ria Formosa, a aprovação do Plano de Ordenamento da Orla Costeira Vilamoura/Vila Real de Santo António e finalmente a criação da Sociedade Polis Litoral – Ria Formosa, da qual são acionistas as autarquias de Faro e Olhão, têm vindo a criar novas regras, das quais avulta a renaturalização a demolição das construções ilegais das ilhas barreiras.
Ainda o ano passado o dia da Culatra foi, mais uma vez, um dia de festa mas também de luta, em prol de uma solução de compromisso com o Ministério do Ambiente, obtida “a ferros” e através da qual as habitações de primeira residência seriam poupadas.
O problema transferiu-se então para o último recenseamento realizado pela Sociedade Polis Ria Formosa que considerava apenas metade das casas existentes nessa categoria.
Sílvia Padinha, presidente da AMIC recordava no dia da Culatra de 2010: “A população organizou-se em 1987 e começou a reivindicar que olhassem para ela de outra forma, porque as pessoas estavam completamente esquecidas e isoladas e exigiram melhores condições de vida.
Pescadores e mariscadores estão na Culatra há perto de 200 anos, um povoamento que teve origem nas armações do atum, abrigos inicialmente provisórios, transformados depois em definitivos.
Durante mais de século e meio nem o Estado nem as autarquias se lembraram da comunidade.
Agora que existem “algumas condições e qualidade de vida” estes não querem ser ostracizados e pretendem ver legalmente reconhecido o direito ao espaço, à casa e de exercerem as suas atividades sem correr o risco de, daqui a uns anos, regressar a ameaça das demolições.